Ela seguia imersa em seus pensamentos.

“Como pudera ser tão estúpida?” - pensava.

Se corresse mais, talvez ainda houvesse tempo. Decidiu pegar o táxi. Dois se passaram antes que ela pudesse subir:

- Me leve ao aeroporto! - gritou ao fechar a porta.

A viagem parecia interminável. Eram apenas 20 minutos até o destino, mas parecia-se passar 12 horas.

Ansiosa, Melissa ofegava.

Seus olhos procuravam o

velocímetro do carro, até que descobriu que o motorista corria à 60 quilômetros por hora:

-Não dá para acelerar não? - Indagou contendo o ódio.

-Moça, são cinco horas da tarde. O único meio de correr mais seria se eu pudesse subir sobre os carros da frente!

A eternidade teve, afinal, um fim.

Oito anos antes, ela conheceu Edu

ardo.

Ele era tudo o que podia haver em um rapaz que não lhe interessaria. Ao menos foi o que ela pensava.

Franzinho, muito pálido e quieto, ela via nele um homem covarde. Ou um futuro covarde.

Ela estava apaixonada por Jefferson, que a ignorava. Os três faziam parte de um grupo de amigos que viviam sempre juntos.

Tanto que lutou, por fim conseguiu conquistar e estar junto de Jefferson. Foram dois anos turbulentos. Ela sofreu, foi traída.

Mas alguém, antes, durante e depois de Jefferson á apoiou: Eduardo. Sempre ele.

Ele a ouvia ao telefone, ao celular em todos seus momentos de tristeza e dificuldade. Estava sempre pronto à ajudá-la. Ela achava que ele a amava, mesmo assim sua paixão cega por seu namorado não a deixava vê-lo como homem.

Até que um dia aconteceu.

Como qualquer paixão, tudo o que sentia por Jefferson acabou. Esvaiu-se como água em vapor.

Decidiu terminar tudo e como morava com o namorado, a coisa ficou feia. Um dia após conversar sobre o fim do relacionamento, ela retorna do trabalho e vê tudo vazio. Seu apartamento sofreu uma limpeza nada desejada: ele levara suas coisas, todos seus pertences.

Desesperada novamente, ela ligou para Eduardo. Ele a salvara, viera buscá-la e juntos deram queixa na polícia. Isso foi no terceiro ano após conhecer Edu.

Ele levou-a para morarem juntos até as coisas se definirem. Mas Melissa se acomodou. Acabou deixando as coisas como estavam. Ficou morando por lá mesmo.

Às vezes sentia algo pelo parceiro de quarto, algo maior que amizade e gratidão, mas jamais dedicou algum pensamento quanto à isso.

O quarto ano chegou e de repente, Eduardo começou à receber ligações. Ela sentiu ciúmes: era uma mulher.

Melissa então fez de tudo para saber o que estava acontecendo, e um dia, sem resistir, seguiu-o. Eduardo agora namorava uma bela moça, bem mais bela do que ela. Seu ego foi ferido e mesmo sem saber o que sentia pelo amigo, decidiu que o teria para ele.

Morando juntos ela podia facilmente mostrar suas intenções com palavras e olhares, ele percebeu e ficou confuso. Começou à evitá-la, chegava mais tarde.

Ela tinha mais raiva pois ele jamais comentava da namorada, nem a trazia para lá. Sentiu-se então humilhada: Eduardo devia estar com receio de magoá-la, nunca devia te-la amado. Era tudo imaginação sua - pensou.

Quando o quinto ano chegou, ela conseguiu.

Conversou às claras com Eduardo que finalmente confessou ter tido um relacionamento, mas apaixonado por ela desde que à viu pela primeira vez, não conseguiu seguir em frente.

Seu ego se acalmou. No mesmo instante percebeu que não o queria mais.

Mas ele a pediu em casamento. Ela, depois de tanto esperar por ele, decidiu “curtir” o momento.

Eduardo parecia um garoto de 15 anos. Demonstrava todo o amor reprimido, o tempo todo.

Ela não o valorizou, enjoou.

Após dois anos de relacionamento, decidiu terminar tudo. Sofreu por ele, mas ela mesma não sentia mais nada por ele. Ou ao menos achava isso.

Eduardo sofreu muito. Demorou para se reerguer.

Então ela, que se manteve como amiga à distância, viu ele encontrar uma nova pessoa, um ano depois, era o sexto desde que se conheceram.

Não sabia dizer o porque mas não conseguia admitir aquilo, sentia como se Edu fosse sua propriedade. Dediciu interferir de novo. Logo conseguiu, Eduardo deixou a outra para voltar com ela. Em seis meses, Melissa, que já se culpava e punia por ser assim, decidiu terminar novamente.

Então não se viram mais.

Mas Melissa soube que ele viajaria para a Itália, era definitivo: achara um emprego dos seus sonhos. Ela não o veria mais.

Nem no mesmo país se falavam mais, quanto mais se ele se mudasse!

Ela corria então para o aeroporto.

Como pude ser tão estúpida?

Pensava e repensava a mesma coisa.

É claro que eu o amo, sempre o amarei.

Ela gostava do desafio, do que era difícil. Mas aventuras não são amor. Ao saber que ele viajaria, ela se entendeu por completo, entendeu que jamais faria com ele o mesmo que vinha fazendo.

Desceu do táxi e entregou uma gorda quantia em dinheiro, sem contar.

Correu aeroporto adentro, sabia qual era o portal de partida. Seguiu para lá.

Não podia acreditar, a porta estava fechada. Seu estômago parecia que ia despencar de seu corpo… De alguma forma, ela se enganou quanto ao horário. Maldita reunião que a segurou.

Ficou meia hora parada ali, olhando para a porta à sua frente. A tristeza a possuiu.

Viera cometendo os mesmos erros que a fariam se arrepender pelo resto da vida. Não haveria outro homem para ela, jamais houve. No fundo sempre amou aquele que, parecia não ter nada do que ela queria, e no final era tudo o que ela desejava.

De cabeça baixa, foi-se embora.

Sentia que sua vida havia acabado. Não sabia como seguir dali em diante. Era muito insegura para viver sem tê-lo por perto, ou ao menos saber que ele poderia ajudá-la caso precisasse.

Ninguém, nem seus pais ou irmãos jamais foram muito chegados à ela. Nunca teve carinho e quando recebeu, não soube como retribuir.

Seus pés estavam muito pesados, seu corpo até dolorido. Foi embora, achando que aquele era o fim de sua vida.

À quinhentos metros dali, um homem pálido, magro e alto a observava. Estava escondido atrás de um pilar.

Suas malas, ao seu lado.

Ele quis, mas não conseguiu partir.

Perdera a maior promoção de sua vida, mas perderia tudo, até mesmo sua vida, por aquela mulher.

Mas não iria procurá-la.

Eduardo viu Melissa chegar e ir, e entendeu, naquele momento e pela primeira vez que ela o amava.

Iria renovar as forças para recomeçar aquela corrida de gato e rato… Novamente. E para sempre se fosse preciso.