Escrito em: Dezembro 16, 2008



É Natal!

Henrique, de 7 anos, acordou feliz. Correu escadas abaixo para ver os presentes que tinha.

Passara a madrugada inteira tentando ficar acordado para encontrar Papai Noel no flagra. Embora seus pais dissessem que se ele fizesse isso não seria um bom menino, e talvez o famoso velhinho não lhe entregaria seus presentes.

Quase tropeçou ao fim da escadaria. É, mais um ano se passava e ele não o encontrou.

Olhou para debaixo das árvores. Uma caixa de presente esperava por ele, como sempre.

Impaciente decidiu abrir antes mesmo que seus pais acordassem.

Um olhar de desapontamento tomou conta de seus olhos, não ganhara o vídeo-game que tanto quis, ao invés disso recebera um caminhão grande de controle remoto. Também gostava disso.

Ouviu passos lá em cima. Seus pais deviam ter acordado.

Suspirou profundamente e preparou-se.

Já entendia que seus pais não tinham dinheiro, e desconfiava que eram eles que compravam seus presentes. Seu pai trabalhava demais e sempre sumia um dia antes do natal. Na véspera, o casal cochichava e ele andava percebendo que escondiam algo, evitando o filho.

- Bom dia Rick! - Exclamou a mãe sorridente.

O garoto sorriu maior do que consegui, e manteve assim.

- O que foi?

-Nada. Por que?

-Você não parece muito feliz.

-É que está cheio de neve para poder brincar lá fora… - pensou rápido.

Abraçou sua mãe e seu pai.

As horas passaram e ele não podia acreditar que passaria mais um ano sem o tão sonhado vídeo-game. Ele vinha pedindo à quatro anos, desde que fora lançado. Sabia bem o que queria.

Brincou com entusiasmo na frente dos pais, mas quando ambos estavam na cozinha preparando um farto almoço, ele sentiu-se ligeiramente deprimido. Largou o brinquedo e ficou olhando para a janela.

Ele não possuía muitos amigos.

Os mesmos colegas de sua classe eram os mesmos desde seus cinco anos de idade, mas no ano anterior, ele presenciou uma injustiça e agiu. Defendeu um garoto pequeno que vivia apanhando de outro. O agressor mandava em todo mundo, os dois brigaram e todo mundo tinha medo de chegar perto de Henrique desde então. Por isso, vivia sozinho. O único lugar onde poderia fazer amigos era na escola.

Distraído, percebeu então um senhor de idade que olhava para ele, do outro lado da rua.

O homem acenava para ele.

Olhou para trás e viu que seus pais não tomariam por sua falta. Saiu correndo porta afora.

O velho senhor não estava mais ali e ele olhou à sua volta: o velhinho dobrava a próxima esquina. Correu para lá.

Seu coração batia descompassado de ansiedade.

Chegou em um beco sem saída, nesse momento o velhinho apareceu de trás de um poste. Rick se assustou.

- Olá meu jovem, - sorriu o idoso.

-Olá, o senhor estava me chamando?

- Estava sim.

-Quem é o senhor, quer falar com meus pais?

- Não, meus negócios são com você mesmo. - Venha comigo, - completou.

O estranho pôs o braço em volta de seu ombro e deixou-se levar. Havia uma porta e por ela entraram.

- Eu queria lhe parabenizar, menino.

- Pelo que?

- Por ser este bom menino. Um dia serás um grande homem!

- O senhor me conhece?

- Oh sim conheço. Tenho notícias suas o ano todo.

Como qualquer criança, às vezes, mesmo curioso, Henrique não perguntava nada. O velhinho sorriu.

- Hoje seu pai vai tentar jogar na loto, -recomeçou. Então mostrou um montinho de papéis para o menino. - Você irá pegar os que ele comprar, e entregará estes à ele.

Henrique o olhava com os olhos arregalados.

- Daqui dois dias, seu pai ganhará na loto pois o bilhete premiado está aqui. Aí terá seu vídeo-game.

Petrificado, milhões de pensamentos passaram pela cabeça do menino mas ele não conseguia dizer mais nada.

Então acordou.

Percebeu que sonhara. Instantaneamente lembrou que era Natal e poderia ganhar um vídeo-game, a realidade, ainda não acontecera!

Empolgado desceu correndo as escadas e tropeçou. Foi de cara no chão e levantou-se gemendo. Mas a dor logo passou ao ver que haviam duas caixas de presentes. Seu estômago deu um salto e ele sentiu leve enjoo.

Correu para abrir o primeiro e viu que era o caminhãozinho, idêntico ao do sonho. Novo solavanco no estômago, ficou triste.

Olhou então para a outra caixa.

Era um vídeo-game!

Ele ia gritar mas se segurou: seus pais não acordaram ainda.

Então ouviu passos…

Ao se virar, permitiu-se gritar como queria então: seus pais estavam escondidos atrás da cortina o tempo todo, filmando-o:

- Isto vai para a Internet! - Disse o pai sorridente, com a câmera na mão.

Henrique gritou e gritou e é possível ver seu vídeo, como de muitas outras crianças que ganham vídeo-games pela Web.

O tempo passou…

Henrique terminara o colegial e havia passado na faculdade.

De repente lembrou-se da situação financeira que tinha na infância, e mais maduro, decidiu questionar sua mãe o porque eles conseguiriam pagar-lhe uma faculdade.

- Ah, você não se lembra querido? - Indagou distraída lavando a louça.

- Lembrar do que?

- Faz tempo que temos muito dinheiro.

- É mesmo? Papai trocou de trabalho quando eu era pequeno?

- Não, ele fazia o mesmo que faz hoje. Mas quando você tinha sete anos, tivemos um Natal de muita sorte: ganhamos na loto!

O rapaz saiu da cozinha ofegante. Lembrou-se pela primeira vez do sonho que tivera…

Defendendo as pessoas, lutando contra injustiças e pelos oprimidos, ele percebeu que em sua vida sempre ganhou tudo o que quis. E percebeu que certas lendas…De fato existiam…

Vídeo-game, faculdade…e amigos. Sempre em época de Natal, sua vida sempre se renovava.