Escrito em Fevereiro 14, 2009





Laís e Michel caminhavam rindo sob o gramado verde. Distraídos, chegaram pouco a pouco até o limite permitido pelas pessoas da vila onde moram.

Diz a lenda, que atrás do bosque existem criaturas malignas e que ele é mal assombrado.

- Assarei seu biscoito favorito se conseguir ganhar de mim, daqui até ali. - Desafiou ela demarcando onde ela pisava como início da corrida.

- Lá, você sabe que eu nunca ganho. É bem por isso que adora me atormentar.

Sem esperar o garoto, Laís saiu em disparada. Correu tanto que as árvores já desapareceram.

Um ar pesado tomava conta daquele campo aberto. Ela parou petrificada. Ouviu passos saindo do mato atrás dela, voltou-se depressa:

- Michel! Droga, não devíamos estar aqui!

O rapaz parou prontamente. Ambos tinham seus corpos enrijecidos de medo.

E agora?

Antes que pudessem pensar em algo, a garota começou à sentir que alguém os observava. Olhou amedrontada para o outro.

Ele respondeu seu olhar com apreensão. Ambos ficaram em silêncio, tentando não mostrar medo ao outro. Eram muito unidos.

Olhavam em volta, girando em círculos. Por mais que a idéia mais inteligente fosse sair dali, correndo mais do que quando chegaram, eles não conseguiam.

Excitados com a aventura e medo, eles simplesmente continuaram girando.

Então algo aconteceu. Numa fração de segundo, Laís que olhava para a direção norte recebeu um empurrão que quase a derrubou:

- Ei! - gritou brava.

Quando voltou-se não era Michel quem estava ao seu lado. E se fosse ele teria se transformado.

Um homem mais alto fitava-a calmamente. Mas seu olhar era frio, bem diferente do rapaz com quem crescera junto. A própria aparência física havia mudado.

Laís caiu no chão, e lá ficou sem conseguir se mexer, respirar ou falar.

O homem abaixou-se e segurou sua mão, levantando-a.

-Fique calma, - disse.

Agora um cavalo branco aparecia de repente e ele tentou ergue-la até o animal. A jovem então voltou à si e lutou contra.

Conseguiu desvencilhar-se dele e correu bosque adentro, com toda a velocidade que suas pernas eram capazes de leva-la.

Alguns dias na vila haviam passado, todos procuravam Michel e ninguém sabia onde o garoto fora parar.

Laís não dormia à dias. Seus olhos começavam à ficar pretos no seu inferior. Não ousava confiar em ninguém para contar o que acontecera, já era demais a culpa que carregava pelo sumiço de seu melhor amigo. E como vinha desconfiando à tempos: o amor de sua vida.

Após a sétima lua cheia, ela reuniu comida para alguns dias, alguns vestidos para usar e colocou-os num saco. Quando todos dormiam ela saiu na calada da noite em direção ao Bosque Proibido.

Machucou-se com galhos no caminho e guiou-se pelas estrelas, em infinito número, no céu negro.

Alcançando o fim do bosque, seu coração parecia que ia saltar pela garganta. Mas preferia morrer do que fugir novamente. Sentia-se cheia de remorso pelo acontecido. Aliás, ela queria morrer se algo tivesse acontecido com Michel, seu amor.

Entrou em campo aberto. Pronto, havia ultrapassado o limite pela segunda vez em sua vida. Logo ela, que não pretendia desobedecer desde a primeira vez.

Seus pensamentos voltaram-se para o amigo. Ele sempre sumira, mas quando saia só. Ficava muitas horas fora e comentavam que o motivo eram meninas da idade dele de outra região, na qual ele ia paquerar. Laís não acreditava nisso. Seja seu amor forte ou confiaça cega que tinha nele, sabia que Michel fazia alguma outra coisa, e algo importante.

Michel tinha uma mania estranha, carregava sempre consigo, uma garrafa. Laís esboçou um leve sorriso, ele sempre vivia bebendo. E não era água ou álcool, como todos fazem, mas sim uma bebida doce que ela não conhecia. Ele não oferecia mas um dia ela tomou escondido.

Estava tão longe do fim do bosque, e aquilo era tão perigoso que parecia tudo surreal.

Ela fora alertada desde muito pequena para jamais sair do bosque, pois desde seus anscestrais isso era proibido.

Quando menos esperava, alguém tocou em seu ombro. Laís deu um pulo, depois cambaleou e caiu no chão.

Era o homem alto e sinistro.

- Onde quer que ele esteja, - disse ela ao reunir coragem, - me leve para junto.

-Em qualquer lugar?

-Em qualquer lugar.

-Ele poderia estar no inferno. Ou sendo torturado, -sorriu.

Ela pensou por um instante. Engoliu seco e percebeu o quanto tinha sede. Teve a certeza de que ao lado daquele homem, viver seria um milagre. Qualquer coisa poderia estar acontecendo à Michel naquele momento.

- Então serei queimada com ele, - fitou-o com coragem no olhar.

Dessa vez foi o homem que deu dois passos para tras. Parecia ter levado um tapa. Seu olhar desconcertado, sua boca semi-aberta, mostrava sua surpresa.

-Vamos, cumpra suas ameaças! - ela gritou furiosa.

-Eu não a ameaçava.

Houve silêncio. Laís olhava para ele com mais atenção, e passado o medo viu que ele era muito atraente. Michel parecia ter sumido de suas preocupações. Irritou-se com os próprios sentimentos.

O homem percebeu sua atração. Aproximou-se lentamente, foi abaixando sua cabeça para perto, cada vez mais perto do rosto dela.

Sem conseguir se deter, ela deixou-o beija-la. Logo gostou daquilo e o envolveu com seus braços. Beijaram-se loucamente como se sentissem saudades um do outro.

Quando ela abriu os olhos, soltou um grito. Era Michel quem ela abraçava.

-Mas o q…que? - Gaguejou estupefada.

-Sou eu…sempre era eu.

Sorriu para Laís, mas esta ao invés de se sentir aliviada deu-lhe um soco no nariz. Michel caiu e teve que colocar a mão para para o sangramento. Rindo muito, ele voltou-se para ela.

-Vou explicar tudo. Há 500 anos atrás, eu era um rei de uma linhagem fina. Eu tinha tudo, mas sempre procurei algo mais. Foi quando encontrei o amor. Mas em menos de 2 anos, ela me foi tirada.

Encontrei uma poderosa feiticeira, ela me deu o exilir da vida. Eu bebia e continuava sempre jovem, com a idade em que a perdi.

Para isso, teria de abrir mão de todo meu reino, meus bens. Sem pensar eu o fiz. Faz mais de 500 anos que a procuro. Sou personagem em várias vilas, também tenho o poder de me disfarçar na forma que eu quiser.

Quando diziam que eu saía da vila à procura de garotas, é verdade. Assim como com você eu convivi de perto em todas as vilas deste lugar, e sabia que a reencarnação da minha alma gêmea seria a pessoa que mais me amasse. E eis você aqui, finalmente me procurando isso.

Sem ar, Laís ficou apenas olhando-o sem conseguir dizer nada. Ele passou a mão sobre ombro dela e a guiou.

Caminharam por muito tempo, até que Laís viu um castelo. Entraram nele e ela foi levada aos aposentos.

O quarto parecia esperar por ela, vestidos prontos para serem usados, a cama muito familiar: ele tinha razão, e ela se lembrava vagamente de estar por lá. Ela já viveu ali.

Sorriu e voltou-se para ele. Beijaram-se felizes.

Ela beberia o elixir também, jamais o deixaria novamente.

…….

Mais de trezentos anos se passaram, e ainda o desaparecimento de uma tal garota adolescente chamada Laís e um rapaz chamado Michel era romantizada de geração em geração.

Mas em cada história, sempre havia um toque de certeza que eles viveriam felizes para sempre…